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Tragédia completa um ano

  • - Folhasete ouve prefeitos de cidades afetadas pelas cheias do Rio Grande do Sul

Folhasete ouve prefeitos de cidades afetadas pelas cheias do Rio Grande do Sul.

Um ano se passou. Em abril e maio de 2024, o estado vizinho do Rio Grande do Sul foi atingido pela maior catástrofe climática de sua história. Chuvas intensas provocaram enchentes e deslizamentos em mais de 470 municípios, afetando cerca de 2,4 milhões de pessoas e resultando em 183 mortes confirmadas até agosto de 2024.
A tragédia comoveu todo o país, mas nós, catarinenses, acompanhamos de perto e nos envolvemos diretamente com o movimento de auxílio e reconstrução. Várias cidades de Santa Catarina “adotaram” municípios gaúchos. Diversas equipes de bombeiros militar, comunitários e voluntários se deslocaram para auxiliar, além das empresas, entidades e pessoas que também contribuíram com doações em dinheiro, comida, materiais de higiene, roupas e demais donativos.
Imigrante, por exemplo, uma cidade de apenas três mil habitantes no Vale do Taquari, recebeu o suporte de Xanxerê. O município gaúcho foi o terceiro no Estado com o maior número de deslizamentos na época. Conforme o prefeito Germano Stevens, “tivemos 166 deslizamentos vistos por satélite em 72 quilômetros quadrados de área. Foi realmente uma enxurrada. Chegamos a ter locais com mais de mil milímetros de chuva em quatro dias”.
Em entrevista ao Folhasete, o chefe do Executivo relembrou os dias difíceis e relatou como a cidade se reconstruiu nesse período de um ano. “Nosso município é pequeno. Temos 12 comunidades no interior e todas elas estavam isoladas por deslizamentos. Em alguns momentos, inclusive, não tinha mais saída. De nossas pontes, praticamente não sobrou nenhuma”. O riacho que corta a cidade é o Arroio da Seca. “Tivemos uma enchente que começou às 5h e foi até às 18h. O riacho ficou aproximadamente quatro metros acima do seu leito, passando um metro por cima de uma ponte que nunca tinha passado antes”.
De acordo com Germano, a cidade ficou dez dias sem telefone e energia elétrica. “Era um cenário de guerra, um desafio diário, algo indescritível. Muitas vezes, enquanto prefeito, a gente transpassava uma segurança, confiança, uma palavra de carinho, de consolo, de alento, enfim, mas nem nós mesmos sabíamos o que fazer. Foi o maior desafio da minha vida”. Uma empresa de internet conseguiu atender a região e restabeleceu o sinal na prefeitura possibilitando que as pessoas pudessem entrar em contato com os familiares.
Todas as áreas foram afetadas, mas a cidade não teve casas destruídas e nem vítimas fatais. “A nossa agricultura foi fortemente prejudicada pelos deslizamentos e pela enxurrada, que acabou lavando a terra e fazendo com que os nutrientes fossem levados rio abaixo. Até hoje alguns suinocultores não conseguiram fazer novos alojamentos porque tiveram perdas em seus galpões, nas suas propriedades. O nosso comércio também sofreu e a nossa indústria parou por vários dias”. Germano Stevens destaca que hoje Imigrante está 80% reconstruída. “Isso se deve principalmente à união das pessoas, à vontade de recomeçar, de reconstruir, que foi muito importante. Nós damos o suporte e o apoio necessário, mas o munícipe, o cidadão imigrantense, também teve muita vontade, muita garra para reconstruir o seu município, a sua propriedade, e para poder retomar uma vida normal”.
O auxílio, segundo o prefeito, veio de várias frentes. Ele lembra do empresário Luciano Hang, que ajudou naquele período crítico e que até hoje faz o aporte de recursos para projetos culturais desenvolvidos no município, como a tradicional encenação da Paixão de Cristo, que recebe anualmente cerca de 15 mil visitantes. Cita também a cidade de Xanxerê, no Oeste catarinense. “Eu me arrepio e me emociono quando eu lembro e penso neles, porque o prefeito Oscar Martarello, acompanhado da Defesa Civil e de duas empresas que prestam serviços a eles, vieram nos visitar. Não temos palavras e nunca acho que vamos conseguir retribuir o que Xanxerê fez pela gente, porque, além de ajudar muito, não se preocuparam em aparecer”.
Máquinas da Prefeitura de Xanxerê ficaram cerca de seis meses em Imigrante e cerca de 20 carretas com alimento animal foram enviadas ao município. A empresa Geonorte Projetos fez o levantamento de tudo o que aconteceu para encaminhar o relatório à Defesa Civil Nacional. Já a Engedix Soluções de Engenharia doou ao município vários projetos de reconstrução de pontes. “Então, foram muitas situações que Xanxerê fez por nós e em que nós vamos ter uma eterna gratidão”.

Governos

Germano Stevens ressalta ainda o apoio do Governo Federal. “Temos que ser também muito gratos e reconhecer todo o apoio que nós tivemos da Defesa Civil Nacional, do Governo Federal. Através do suporte de recursos deles conseguimos dar a celebridade à reconstrução necessária, permitindo mobilidade para o cidadão imigrantense, porque nós não tínhamos mais nenhuma ponte numa distância de 10 quilômetros. Precisamos reconhecer também um apoio importante, mas em menor proporção, por parte do nosso governo estadual”, finalizou o prefeito de Imigrante.


Roca Sales registrou 31 óbitos nas enchentes

A cidade de Roca Sales, também no Vale do Taquari, é uma das que foram mais castigadas pelas fortes chuvas. A localidade foi afetada por três enchentes entre setembro de 2023 e maio de 2024. Ao todo, 31 pessoas morreram no município, que tem 12 mil habitantes.
De acordo com o prefeito Jones Wunsch, 80% do território foram atingidos por enchentes ou deslizamentos. “Na época eu era somente cidadão de Roca Sales. Assumi esse ano como prefeito. Então, a gente herdou um passivo de uma cidade destruída. Agora, em poucos meses, estamos dando uma cara nova ao município. A gente deu uma revitalizada no Centro, com intervenções nas calçadas, nas avenidas, pintando cordão, plantando flores, o que auxilia também o nosso comércio, que foi tão desgastado, ficando praticamente 100% embaixo da água. Estamos limpando o município e pedindo para os proprietários limpar os seus lotes também para que a nossa cidade vire essa página e, a partir de agora, a gente possa olhar para frente com muito otimismo e esperança”.
A tragédia, segundo Jones, tem várias fases. “A fase da comoção, depois da ajuda. Então, logo no início, água e mantimentos. Depois vieram a questão das limpezas dos voluntários, que ajudaram a limpar as casas e o comércio. Enfim, após máquinas para o nosso interior, para as nossas estradas”. Outro ponto fundamental da reconstrução, conforme o prefeito, é emprego e renda. “Nós temos aqui uma unidade da JBS, tem uma unidade de curtume e uma fábrica de calçados. Enfim, essas empresas que apostaram e que reinvestiram nas suas plantas, a gente quer agradecer por manter os empregos”.
O grande gargalo de Roca Sales após as enchentes é o setor de habitação. “A gente tem um déficit de mais de 500 casas. Inclusive tenho uma audiência com o vice-governador para que a gente destrave algumas obras que o Estado iniciou aqui de construção de casas e está parado”. Jones Wunsch enfatiza que aproximadamente dois mil moradores saíram da cidade. “As pessoas perderam tudo”.
Passados 12 meses do período mais crítico, o prefeito faz questão de agradecer todo o auxílio recebido. “Um agradecimento aos voluntários, que vieram nos ajudar. Não vou nomear os municípios, porque muitos ajudaram. Quero agradecer de coração”.

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