Agro preocupado com tarifaço

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- Previsão é de redução nas vendas externas
Medidas anunciadas por presidente norte-americano devem causar impacto negativo em diversos setores.
Entrou em vigor na quarta- feira, dia 6, a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos importados do Brasil. Embora mais de 600 itens tenham sido poupados, como petróleo, peças de aeronaves, carvão e suco de laranja, o chamado “tarifaço” afeta diretamente setores estratégicos da balança comercial brasileira, como o café, a carne bovina, o açúcar, madeiras e materiais de construção como cal e cimento.
O agronegócio também deve sentir o peso da medida. O café, responsável por 4,7% das exportações brasileiras para os EUA, será tarifado. Já a carne bovina, em que os EUA são o segundo maior mercado importador, também será afetada, o que pode gerar impactos na cadeia produtiva e nos preços internos.
Para lideranças catarinenses, o Estado e os municípios devem ser afetados de uma forma ou de outra. O searaense Enori Barbieri, vice- presidente da Secretaria da Faesc e presidente da Câmara Setorial do Milho do Ministério da Agricultura, entende que o tarifaço é reflexo de um conflito político e ideológico que acaba recaindo sobre o produtor e o consumidor brasileiro. “É uma conta que todos nós vamos pagar. O cidadão que trabalha, que produz, será impactado direta ou indiretamente, especialmente na agricultura”, afirmou.
Barbieri alerta que, mesmo os setores não diretamente afetados pelas tarifas sofrerão consequências devido à oferta excedente de produtos no mercado interno. “Com a dificuldade de exportação, o excesso de produtos pode provocar queda nos preços e inviabilizar economicamente muitos produtores, especialmente os pequenos exportadores”, disse. No setor do milho, por exemplo, o cenário é desafiador, segundo ele, apesar de os Estados Unidos serem grandes produtores e não importarem o produto do Brasil.
A segunda safra de milho do Brasil registrou uma colheita recorde de 135 milhões de toneladas. “Mais de 10 milhões acima do previsto, mas esbarra na falta de capacidade de armazenagem. Os preços já estão abaixo do mínimo estipulado e a logística brasileira não consegue acompanhar o ritmo da produção”, alerta Barbieri. Além disso, alerta que existe o temor de que pressões geopolíticas por parte dos Estado Unidos restrinjam as exportações brasileiras para países considerados “inimigos”, como o Irã, hoje o maior comprador de milho do Brasil.
Mesmo com o cenário adverso, Barbieri ainda vê espaço para otimismo. “Depois da tormenta, vem o tempo bom. O Brasil tem potencial para se manter como o grande fornecedor de alimentos do mundo. Mas precisamos de maturidade política para atravessar esse momento.”
Santa Catarina
O tarifaço terá um impacto financeiro significativo em Santa Catarina, com a perda estimada de R$ 1,7 bilhão em exportações e uma possível retração de 0,31% no PIB estadual, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os principais setores afetados são o da indústria moveleira e a redução da competitividade de produtos exportados, como máquinas, móveis, têxteis e eletrodomésticos.
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